sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Os Sentidos do Natal: Epílogo

É. Eu vi... Bell UH1 Huey Iroquois!
Por Jotha Santos
Antes tarde do que nunca! Eu sei que o Natal já passou, mas como os seus sentidos são eternos, aí vai o último, restante, derradeiro e definitivo capitulo da saga Os Sentidos do Natal, até que alguém resolva escrever alguma coisa melhor sobre o assunto, sem necessitar de muito esforço. Desejo a vocês, meus inúmeros seis leitores, um bom ano novo e que 2008 continue sempre novo, ainda que você pareça estar mais velho!

A audição também exerce papel fundamental durante o Natal, principalmente na hora de descobrir os presentes colocados ao pé da árvore, provavelmente enfeitada com as mesmas bolinhas produzidas em larga escala por prisioneiros tailandeses e que foram reprovadas em todos os controles de qualidade, inclusive o seu, dentro da loja. Quando chega meia-noite, todo mundo corre pra pegar o seu presente, e aí aquele cunhado mala diz:

- Esse é o meu! Esse é o meu!

Aí, com aquela mão toda engordurada após comer uns vinte croquetes antes da ceia, o parente da sua esposa (que não é seu, mas pensa que é) dá uma chacoalhada daquelas na caixa e depois questiona:

- Qué isso?
- É de vidro?
- É. Pode abrir!
- Putz!
- Que foi!
- Acho que quebrou!

Já perto da meia-noite, tem sempre aquele outro parente (geralmente um cunhado mesmo) que acredita que no Natal, o milagre da entonação vocal e da afinação perfeita acontece especialmente com ele. Após umas e outras, ele se sente mais preparado que Roberto Carlos em dia de especial da Globo para soltar a voz e mostrar seu grande talento. É de doer! Só a esposa (dele) acha graça. Mas só até certo ponto. O pior é que quando ele se cansa, alguém (provavelmente outro cunhado) vai lá no aparelho de som e coloca aquele CD da Simone que você já sabe bem qual é. O martírio não acaba nunca!

Em alguns momentos, porém, a audição pode nos confundir. E é aí que a visão exerce seu papel igualmente importante na hora de descobrir outros mistérios do Natal e seus pormenores.

- Ô Papai Noel?
- Diga, minha filha!
- Essa sua risada é de Papai Noel mesmo?
- Claro, querida!
- Não parece! Ri de novo?!
- Ho! Ho! Ho!
- É. Não parece mesmo!
- É que Papai Noel está um pouco cansado, minha filha!
- Sei.
- Eu vi o Marlboro na sua mochila!
- E as renas? Cadê?
- Renas?
- É. Você não veio de rena?
- Claro, claro...
- E cadê?
- Você me leva pra ver?
- Não vai dar!
- Ué! Por que?
- ESCUTA AQUI, MENINA!
- Credo, Papai Noel! O que foi?
- Já me enchi desse papo!
- Não escutou o barulho lá fora quando cheguei!
- É. Escutei.
- E você acha que rena faz aquele barulho todo?
- Acho que não!
- Pois é. Dá uma olhada pela janela!
- EU CHEGUEI DE HELICÓPTERO!
- É. Eu vi... Bell UH1 Huey Iroquois!
- Humpf!
- ...
- ...
- Mas, ô Papai Noel?
- Fala logo! O que é que você quer?
- Eu só tenho mais uma dúvida!
- Tudo bem... Qual é?
- Você mora no Vietnã?


Foto: www.aviationphoto.co.uk

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Os Sentidos do Natal: Parte II

É tipo uma galinha. Só que bem maior!
Por Jotha Santos
Após receber muitos pedidos por e-mail (uns quatro), e também pessoalmente (uns dois), a equipe do Coluna Livre (no caso, só eu mesmo) dá continuidade à série Os Sentidos do Natal. Até o dia 25 de dezembro – não necessariamente desse ano – você poderá compreender (ou não), de forma inutilmente analítica, do que o Natal realmente é feito.

Depois do importante tato (veja abaixo. Abaixo, mas no outro texto), analisaremos, de maneira profundamente superficial, o olfato e o paladar. Embora sejam sentidos diferentes, estão essencialmente fadados a dividir as atenções. Não adianta. Primeiro você cheira, depois come. Muita gente até faz o contrário, mas quase sempre acaba se dando mal. Quem é que nunca abriu a geladeira, pegou a primeira garrafinha que viu pela frente, deu aquela golada bem servida e só depois percebeu que o leite já havia virado queijo. É por isso que não dá para separar os dois. Cheirar e comer fazem parte da nossa história. E também fazem bem à saúde.

Com cerca de 5 milhões de células olfativas e capaz de identificar mais de 4 mil cheiros diferentes, nosso nariz nos revela algumas coisas interessantes sobre o Natal. Um dos grandes sinais quase sempre vem logo pelas manhãs do último mês do ano. O cheiro de açúcar e canela não deixa dúvidas: Tem rabanada! Aquele pãozinho amanhecido mergulhado em leite e ovos faz a alegria da criançada (e da velhacada sem dente também), porém, alguns questionamentos ainda habitam o consciente coletivo individual das maiores cabeças pensantes do nosso universo cósmico natalino.

- Ô mãe?
- Diga, minha filha!
- Por que essa comida chama rabanada?
- Não sei. É só um nome!
- É feita de rabo?
- Claro que não. Imagina!
- Tem rabo dentro?
- NÃO, né! É feita de pão!
- Ahh...
- Ô mãe?
- Hum!
- Pão tem rabo?

Além do nome, o prato típico de fim-de-ano ainda traz outra questão não esclarecida:

- Ô mãe?
- O que é, menina!
- Como se faz rabanada?
- Bom, primeiro você pega o pão amanhecido...
- Peraí! Amanhecido?
- É, filha...
- Como assim?
- Amanhecido! De um dia para o outro! Entende?
- Ah, bom!
- Então você passa no leite, no ovo e frita.
- Legal.
- Mas... ô mãe?
- FALA!
- Pão dorme?

Assim que o paladar entra em ação, mais alguns quase mistérios são desvendados. O Natal passa então a ser mais bem compreendido. As 10 mil papilas gustativas da língua, que transformam o sabor em impulsos elétricos que dizem ao cérebro se a comida é boa ou não, auxiliam nossa percepção do mundo de São Nicolau e suas nuances, filosoficamente falando, claro. As incertezas, no entanto são inevitáveis. O complexo sistema da mais festiva das datas é assim, digamos, muito complexo, redundantemente falando.

- Ô mãe?
- Oi.
- Quiquié Chester?
- Chester é uma ave, minha filha!
- Ave que voa?
- Não sei. Acho que não!
- Como assim?
- É tipo uma galinha. Só que bem maior!
- Ahh...
- Você já viu um?
- Eu não!
- Então como é que você sabe?
- Sabe o quê?
- Que ele não voa?
- Ah! Sei lá... ...sabendo!
- Me dá um pedaço?
- Tó!
- Gostoso né?
- É.
- Mas não tem gosto de galinha. É melhor.
- É.
- Parece frango.
- É.
- Mas é melhor.
- Verdade! Acho que é um frango superdesenvolvido.
- Como assim?
- Ah! É um frango saradão, mais forte!
- Humm...
- Mas, ô mãe?
- Quié?
- Frango vai na academia?
- LÓGICO QUE NÃO, NÉ!
- Então como é que ele fica mais forte?
- Sei lá! Acho que o pessoal dá um remédio pra ele tomar?
- Remédio?
- É. Pra ele crescer mais que os outros!
- Humm...
- Mas, ô mãe?
- FALA!
- Chester toma bomba?
- NÃO!!!!
- Mas então como é que...
- CHEGA! CHEGA DESSE ASSUNTO!
- O que foi?
- Chester é Chester e pronto!
- Tá bom, tá bom...! Não precisa ficar brava!
- Não tô brava!
- Então tá...
- Mas, ô mãe?
- Humpf! O que é!?
- Chester é uma ave que chama Chester, né?
- É.
- E Chester não é frango nem galinha, né?
- É.
- Se Chester é uma ave que não é frango nem galinha...?
- FALA LOGO!!
- Será que Chester tem rabo?


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Os sentidos do Natal

Ô Noel? Isso aqui é bala 7Belo!
Por Jotha Santos
Os sentidos do Natal são cinco: Tato, olfato, paladar, visão e audição. É através deles que compreendemos o verdadeiro espírito natalino, a verdadeira magia por trás de uma data tão economicamente festiva. Esta série quase especial será dividida em cinco capítulos. Nela, farei algumas reflexões quase importantes, revelando porque o Natal realmente tem mesmo algum sentido.

O tato é o primeiro sentido que desenvolvemos e por ele nós entendemos as muitas peculiaridades do Natal. Quem nunca na vida levou um tremendo choque ao tocar aquelas inqualificáveis lampadinhas chinesas vendidas em lojas de 1,99, sempre amontoadas da pior maneira possível em caixas de papelão recém despachadas pelo Porto de Santos? É aquele monte de gente puxando uma fieira daqui, outra dali. Uma bagunça geral. Mas é na hora de testar que o tato entra em ação:

- Liga aí, Tião!
- Dzzzzzzzzz!!
- Ôh, fia da mãe!

Outra coisa importante que o tato nos revela sobre o Natal diz respeito à qualidade das bolinhas que enfeitam as árvores, móveis, telhados, soleiras, toldos, pias, maçanetas, cortinas e uma infinidade de outros lugares onde um ser humano já conseguiu pendurar aquelas pequenas esferas coloridas. Quando você pega uma na mão, não adianta, ninguém resiste à tentação de dar aquela conferida pra ver se ela é forte mesmo:

- Ô amigo! Essa bola quebrou!
- Tu aplicou força excessiva no objeto!
- Mas...
- Vai ter que pagar!

É sempre assim. Além de correr o risco de levar um corte que só vai cicatrizar no próximo Natal (data em que você provavelmente vai testar outra bolinha), ainda terá que arcar com os prejuízos. O seu, por estar levando um produto de má qualidade, e o da loja, que só tolera testes de pressão em seus produtos abaixo dos 0,02 quilogramas-força por centímetro quadrado.

Tatear também auxilia as crianças em suas descobertas em relação ao mundo quase perfeito do Papai Noel. Dentro dos shoppings (o novo lar do cidadão em questão), elas olham, olham, e se admiram com tudo aquilo, mas sem o tato não dá:

- Mamãe, mamãe, olha só a neve!
- É minha filha, é neve mesmo!
- Ah! Que droga!
- O que foi?
- Algodão!
- Então olha as renas!
- Plexiglass!
- Então vamos ver a árvore? Legal né?
- Plástico.

A decepção é tanta que os olhinhos da criança só voltam a brilhar quando vê o Papai Noel ali, bem na sua frente, pronto para realizar todos os seus sonhos e finalmente entregar aquele presente que ela tanto queria.

- Ho Ho Ho Ho!
- Qual é o seu desejo, criança? (com aquela voz de Papai Noel, claro)
- Eu queria ganhar uma Barbie 2.0 Turbo Intercooler Combo Ultra Plus!
- Ho Ho Ho Ho Ho Ho!
- Abra as mãos e feche os olhos!

Então a criança fica empolgada. Esse é o seu momento!

- Ô Noel? Isso aqui é bala 7Belo!
- Ho Ho Ho Ho!
- E é só isso que o senhor tem pra me dizer?
- Ho Ho Ho!
- Não sabe falar outra coisa não?
- Ho Ho!
- Tô desconfiada que talvez você não seja o Santa!
- Ho!
- Posso colocar os seus óculos?
- Claro, minha filha!
- Ué?
- Não tem lente?
- Que material é esse?
- PVC...
- Posso então tocar na sua barba?
- Credo! Quê qué isso?
- Fibra vegetal...
- E esse seu cinto?
- Papelão...
- E a bota?
- Napa...
- E essa pança?
- Falsa...
- E a roupa?
- Naycron!


Continua (ou não) na próxima blogada!


quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A Mosca de Banheiro - Parte II

Onde viviam essas mosquinhas antes da existência dos banheiros?
Por Jotha Santos
Após muitos comentários (uns dois) recebidos por causa da minha pequena reflexão sobre as moscas-de-banheiro (entre outras), vamos colocar o assunto novamente em pauta, afinal, a cultura inútil é o que realmente interessa.

Na verdade eu não vou “falar” muito mais sobre o assunto. Em seu ótimo Diário da Tribo , meu grande amigo, pensador, escritor e jornalista científico Fábio Reynol dedicou uma coluna inteira para elucidar toda e qualquer altercação que pairava sobre o mundo das misteriosas mosquinhas-de-banheiro. O texto é tão esclarecedor que mereceu ser republicado aqui no Coluna Livre, na íntegra e sem censura.

Fiquei impressionado e um pouco preocupado com o que li. Primeiro, descobri que sofro de uma patologia grave denominada alucineos díptero psicodídeo insectuns toaletiuns, doença que ataca principalmente o cérebro de pensadores que utilizam o WC como fonte de inspiração para suas observações sobre o sentido da vida. Ela não tem cura (pelo menos enquanto existir banheiro) e como só se manifesta em pessoas que tem o hábito de tomar banho, é extremamente rara.

Uma possível solução para amenizar os sintomas seria tomar banho de água fria, evitando assim a evaporação do cloro impregnado nos azulejos, principal causador das alucinações (leia artigo abaixo), porém, os danos cerebrais causados pela Cândida (ou Qbôa, se preferir), aliadas às altas temperaturas das chuveiradas ao longo dos anos parecem ser irreversíveis. Hoje mesmo eu já vi umas quatro mosquinhas no meu banheiro.

Outra coisa muito me intrigou no estudo publicado por Reynol (lê-se Reinol). Se eu tenho visões de mosquinhas-de-banheiro no meu banheiro é porque estou mesmo doente. Mas se eu puder tocá-las e matá-las com as minhas próprias mãos, isso significa que elas realmente existem, e se elas existem, meu companheiro Reynol disse abertamente em sua coluna que o meu banheiro está sujo! Isso não é verdade! Eu garanto! Podem vir me visitar. Faço questão de mostrar o meu singelo WC. Pequeno, mas limpinho. Só não aconselho um banho quente, pois poderão desenvolver a mesma moléstia deste que vos escreve.

A partir de agora, vou diminuir a dosagem de cloro durante as desinfecções sanitárias em minha casa. As alucinações devem diminuir e, quem sabe um dia, eu até possa contemplar mosquinhas-de-banheiro verdadeiras, reais e com todas as suas formas e tamanhos, assim como o Reynol contempla todos os dias em seu toalete.

A mosca-de-banheiro
Meu amigo Joe Jotha Santos F.C., jornalista profissional e filósofo de responsa, suscitou uma pérola merecedora de inserção nos anais da filosofia contemporânea. Em seu blog
Coluna Livre, Jotha Santos se pergunta por que as moscas de banheiro só são encontradas em seu habitat azulejado do W.C. A preocupação do pensador nos remete a duas outras reflexões ainda mais profundas:


1 – Onde viviam essas mosquinhas antes da existência dos banheiros? e

2 – Qual a qualidade do banho de Jotha Santos se ele usa o tempo de seu asseio em elucubrações entomológicas?

Vamos nos ater à primeira questão, uma vez que a segunda afeta exclusivamente às pessoas de seu convívio, do qual só participo virtualmente por falta de tempo e agora por uma questão aromática.
O importante é que Jotha (lê-se “jota”) suscitou-me esse compêndio que segue abaixo o qual ultrapassa toda e qualquer cultura inútil por ser também irrelevante, inverídico e completamente desnecessário, todos os atributos fundamentais para figurar neste Diário da Tribo.

Então lá vai:

A mosca-de-banheiro
Por Fábio Reynol

A mosca-de-banheiro é uma alucinação coletiva que habita os sanitários domésticos, daí ela pertencer à família dos psicodídeos (ou dídeos que se reproduzem na psiqué humana). O cloro remanescente da limpeza dos azulejos evapora com a água quente do banho e é absorvido pelas fossas nasais do banhista que começa a ter alucinações dípteras psicodídeas.

Antes da invenção do banheiro, a mosca-de-banheiro era chamada de mosca-sem-teto e não atormentava ninguém, uma vez que os banhos (quando havia) eram de cachoeira e a céu aberto, sem paredes nem teto onde elas pudessem se apoiar e sem cloro que os banhistas pudessem cheirar. Elas depositavam seus ovos em assentamentos clandestinos e eram constantemente desalojadas por ordens judiciais de reintegração de posse.

No Brasil, encontramos três tipos principais de alucinação entomológica sanitária: Psychoda alternata, Psychoda cinerea e Psychoda satchelli. O melhor tratamento para essa patologia é parar de lavar o banheiro. Em pouco tempo as alucinações desaparecerão e em seu lugar surgirão moscas reais que botarão seus ovos nos restos de cabelo e matéria orgânica morta depositada nos ralos e encanamentos de esgoto.

Um bom psiquiatra também pode ajudar. Mesmo que ele não livre o seu banheiro das mosquinhas, ele pode auxiliá-lo a se concentrar no banho em vez de ficar pensando sobre a origem da fauna sanitária ou gastar o próprio tempo a escrever despautérios sobre pensamentos alheios absurdos da hora do banho e ainda publicá-los em um blog.


Importante: O Diário da Tribo não se responsabiliza por reações adversas de professores de Biologia que porventura encontrem o texto acima num trabalho escolar.
Foto: Wikipédia

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Perguntas Sem Respostas

Nossa vida está repleta de perguntas sem respostas!
Por Jotha Santos
Acabo de voltar de uma entrevista de emprego. Pra trabalhar como propagandista de laboratório. É isso mesmo. Pra ser aquele "cara chato" e todo engomadinho que sempre entra na sua frente no consultório médico justamente quando chega a sua vez.

Assim que entrei na sala 814 do hotel, me perguntaram: Você é insistente hein? Pelo visto, você quer mesmo entrar para essa empresa não é? Esta foi a segunda vez que eu participei de um processo seletivo para o tal laboratório. Tentei responder, mas só consegui dar um sorriso amarelo e dizer: Estou tentando.

O que me intrigou, no entanto, foi perceber que a nossa vida está repleta de perguntas sem respostas. Ou de perguntas em que a própria resposta está embutida nelas. Ou de perguntas que não deveriam ser consideradas perguntas por não possuir nenhum tipo de resposta. Eu sei. É uma loucura mesmo.

Toda vez que vou tomar banho, por exemplo, fico observando aquelas mosquinhas de banheiro. Por que será que a gente só vê mosquinha de banheiro no banheiro? Parece que ela não vive em nenhum outro lugar. O WC é o seu habitat natural. Eu nem imagino de onde elas aparecem. Pra mim, parece que sempre estiveram lá, no banheiro. E o pior é que elas são bem bobinhas. É fácil matá-las mesmo que você esteja manco das duas pernas. Só não tente jogar água porque não vai funcionar. Elas são à prova d’água. Mesmo que você as jogue dentro do vaso, não adianta. Só morre esmagando.

A pergunta é: Mosquinha de banheiro só vive mesmo no banheiro ou pode ser encontrada em outro lugar? Eu nunca vi. Não vi sequer um “parente” próximo dela, que se pareça pelo menos um pouco com ela, com aquelas asas meio ovaladas e corpo aveludado.

E o porta-luvas então. Porque será que aquele compartimento que todo carro (ou quase todo) tem se chama porta-luvas? Pode procurar. O que você menos vai encontrar em um porta-luvas é a tal da luva. Alguém pode dizer: Ah! Antigamente as mulheres usavam luvas! É verdade, eu concordo, mas e hoje em dia? O porta-luvas só serve para guardar um monte de traquitanas. E as mulheres substituíram a delicadeza das luvas pelo pezão em cima do painel. Ôh mania que mulher tem de colocar os pés no console do carro. Pode reparar. É um festival de frieiras, joanetes e unhas encravadas enfeitando os painéis que custaram uma grana preta e meses de trabalho entre projeto e fabricação. Imagine só uma mulher dessas usando luvas! Só se for de boxe.

Outra coisa que sempre me encasqueta também é quando alguém faz pavê como sobremesa e aí sempre aparece aquele mané que diz: “É pavê ou é pacomê? É o tipo de pergunta que além de não ter uma resposta lógica, irrita profundamente. No campo da idiotice, aliás, a gama de perguntas sem respostas é infinita, como por exemplo, por que os pilotos kamikazes usavam capacetes e por que pijama tem bolso se você não guarda nada nele enquanto dorme.

Não adianta procurar a resposta. E mesmo que você encontre, outra pergunta fica: E daí? Esta é a prova de que o nosso mundo é mesmo cheio de enigmas indecifráveis e incompreensíveis. Na maioria das vezes, nós vivemos indiferentes ao caos das perguntas sem respostas, tocamos nossas vidas sem reparar na riqueza dos mistérios que nos cerca.

Tudo bem que querer saber onde o Super-Homem guarda suas roupas quando se troca na cabine telefônica não é a coisa mais importante do mundo, mas observar as situações com um olhar curioso nós traz uma percepção um pouco mais racional e lógica dentro de um mundo tão irracional e ilógico. Questões aparentemente inúteis, muitas vezes, escondem significados importantes e se perpetuam através dos tempos, como o “ser ou não ser” de Shakespeare ou ainda a dúvida que paira sobre a ordem de nascimento do ovo e da galinha.

É certo que ninguém poderá encontrar respostas para tudo, como ainda não encontrou, mas nós simplesmente não podemos ignorar por que o banco cobra juros do cheque sem fundo que eu emito se eles sabem que eu não tenho fundos; ou por que o computador pede para apertar qualquer tecla para continuar quando não há nenhum teclado instalado. São coisas cotidianas que escondem os “verdadeiros mistérios da vida”, só para usar uma expressão mais cientifica e moderna.

Se você acha que toda essa reflexão não tem sentido nenhum, procure entender por que o Tarzan estava sempre barbeado e por que um minerador precisa saber o significado da palavra pneumoultramicroscopiscossilicovulcanoconiótico. É coisa de louco!

sábado, 3 de novembro de 2007

Casa do pai Orkut

São traições de todos os tipos e em todos os níveis.
Por Jotha Santos
Peço desculpas aos meus inúmeros seis leitores que acompanham com avidez e sede de conhecimento da nossa rica cultura inútil por tão longo hiato. Acontece que, como bom jornalista fracassado que sou, não consegui atualizar esta humilde coluna com a freqüência que gostaria. Na última quinta-feira eu até que tentei, mas uma forte chuva interrompeu temporariamente o abastecimento de energia em meu bairro, ou seja, popularmente falando, caiu a força. A culpa foi da CPFL, eu juro!

E não foi só isso. Você conhece algum escritor na face da terra que ainda usa Internet discada? O famoso IG? Pois é. Esse é o meu caso. Nem São Bill Gates dá jeito. Dá tanto problema que desanima. A conexão cai toda hora, tudo passa mais devagar, tão lento quanto uma corrida de tartarugas aleijadas. E quando as pessoas me perguntam:
- E aí, você viu aquele vídeo no YouTube? Respondo como o personagem de Drauzio Varella em Estação Carandiru:
- “Sem chance”!

Mas não dá pra ficar só me lamentando. Mesmo que precariamente, ainda consigo manter contanto com a grande rede mundial de computadores. A mãe, o pai, a avó e a tia de todas as mídias. Ainda tem muita gente nesse mundo que jamais viu um teclado, um mouse e não faz a menor idéia de quem seja o tal de Orkut. Não sei se isso é bom ou ruim, antropologicamente falando, claro.

Aliás, nós já sabemos que o Orkut é uma ótima ferramenta para reencontrar velhos amigos, fazer novas amizades, participar de comunidades e debater os mais diversos assuntos da vida cotidiana, porém, uma outra função menos nobre, e por isso mesmo, mais interessante, tomou conta da famosa página de relacionamentos: Descobrir traições.

E são traições de todos os tipos e em todos os níveis. Amigos, colegas de trabalhos, primos, filhos, enfim, qualquer pessoa. Mas o que mais atrai mesmo são as traições entre casais. Mulheres que colocam disfarces (às vezes apenas modificando o nome) e se relacionam com pessoas que o marido ou companheiro nem faz idéia de quem seja. Homens que enchem o álbum de fotos com outras mulheres “maravilhosas” que, com certeza, jamais serão apresentadas as suas esposa. Adolescentes que revelam seu amor incondicional por garotos já comprometidos e vice-versa. É quase um convite ao crime passional.

O pior de tudo isso é que muitas famílias são destruídas pelos tropeços despudoradamente escancarados no site. Os maridos, mulheres, noivos e noivas, namorados e namoradas parecem se esquecer de que suas vidas (e suas traições) serão expostas ao mundo todo. Mas pensar assim seria ingenuidade demais da minha parte. Não posso deixar de citar aqueles que querem e preferem expor suas vidas dessa maneira para que o outro saiba que ele (ou ela) não é mais a pessoa mais importante da sua vida. E olha que saber que sua companheira ou companheiro não divide mais os lençóis apenas com você via Orkut não deve ser nada agradável.

Assim é muito mais fácil, prático e descomplicado, como tudo na Internet. É a revolução. É a tecnologia a favor do homem. É a tecnologia a favor dos traidores. Agora não é mais preciso chegar em casa com a cara deslavada e ter que enfrentar o outro. Basta ir a uma lan house, se cadastrar no Orkut, escrever umas declarações ridículas de amor, colocar umas fotos daquela viagem ao Rio de Janeiro (que o outro pensava ser um congresso de cabeleireiros) e pronto. É só aguardar. Em pouco tempo seu marido ou esposa ficará sabendo de tudo pelos amigos que adoram garimpar essas coisas na Internet (ou ele mesmo vai dar de cara com a foto que supostamente seria do congresso) e aí já está feito.

Nem é preciso abrir a boca. Da cara deslavada, provavelmente não vai dar pra escapar, mas se tudo der certo e ninguém estiver te esperando com uma faca de cozinha na mão atrás da porta, na melhor das hipóteses, você vai ouvir algumas verdades e um monte de besteiras e palavrões enquanto faz as suas malas. Num futuro próximo, terá que levantar um dinheirinho extra com o seu amante para pagar um bom advogado. Nem dá mais tanto trabalho como antigamente. Ah! Esse Orkut! Que maravilha.

Assim como na Casa da Mãe Joana, o Orkut também é um lugar onde vale tudo, sem fé, sem lei e sem ordem. Tudo pode. Tudo é possível. Não tem essa de lé com lé, cré com cré. É lé com cré, cré com lé, lélé com crécré e lélélé com crécrélé. A bagunça é geral. Nem eu estou entendendo mais nada. O mais importante mesmo é que o Orkut traz lucros enormes, como lá na casa da mãezona, ainda que seja às custas da desgraça alheia. Mas em pleno século XXI, na era da modernidade, isso pouco importa, pois é disso que o capitalismo é feito. É a casa do Pai Orkut.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Decisões

Por Jotha Santos
- Tia?
- Pode falar...
- Tem Fanta?
- Tem sim!
- Então me vê uma Coca!
- Tá de palhaçada comigo, muleque!
- Tô não, tia!
- Então fala logo o que você quer!
- Não sei, tô na dúvida!
- Então resolve logo que a fila tá aumentando!
- Tá bom...

- E aí! Já decidiu?
- Hum... ainda não.
- Ô garoto! Melhor resolver logo!
- Quanto tempo eu tenho?
- De recreio?
- É.
- 45 minutos.
- E pra escolher?
- Escolher o que?
- O que eu quero!
- Não tem mais tempo nenhum! Fala logo!
- Como assim?
- Como assim o que?
- Você disse que eu tinha 45 minutos!
- De recreio...
- Então.
- Então o que?
- Então eu ainda tenho tempo prá escolher.
- Muleque, eu tô perdendo a paciência!
- Por que, tia?
- Ahr! Seu tempo acabou!
- Acabou?
- É. Acabou!
- Mas você disse que eu tinha...
- CHEGA!!
- Calma tia. Não precisa ficar brava!
- Tudo bem. Mas vê se escolhe logo.
- Quanto tempo ainda tenho?
- Só cinco minutos!
- Tá bom. Acho que já escolhi!
- Ufa. Até que enfim!
- Mas se o sinal bater eu não vou poder escolher o qu...
- VAI LOGO!
- Tá, tá... desculpa.
- Já decidiu?
- Já.
- O que vai ser?
- Bééééééééééé!
- Vixe, tia. Bateu o sinal!
- Pede agora que ainda dá tempo.
- Tá bom...
- Vai. Diz logo!
- Tá. Tem Fanta?
- Tem. Tem sim!
- Então me vê uma Coca!

sábado, 4 de agosto de 2007

A verdade ficou em pedaços

A culpa passou a ser creditada ao piloto.
Voo 3054
Por Jotha Santos
Quando um acidente aéreo acontece, sou sempre o último a dizer que a culpa foi do piloto. Como entusiasta da aviação, sei que os pilotos que chegam ao comando de uma aeronave são extremamente competentes, bons mesmo. Seja na aviação civil ou militar, esses homens extraordinários e suas máquinas maravilhosas fazem o que a maioria de nós jamais seria capaz. São pessoas não apenas preparadas para o ofício, mas que nascem com um talento especial para fazer algo que até pouco mais de um século atrás era considerado impossível.

Voar não é para qualquer um. E quando digo voar, é voar mesmo! É deixar o conforto das poltronas da primeira classe para assumir o assento da esquerda de uma cabine de comando. Ali, com o auxílio da máquina, você voa! Conduzir aos céus um pássaro de ferro de 60 toneladas e traze-lo de volta ao chão em segurança é transformar a magia em realidade. É fazer dos céus a sua morada, e da terra, apenas uma parada obrigatória.

As investigações do acidente com o Airbus da TAM em 17 de julho estão apenas no começo. A forma como estão sendo conduzidas, no entanto, é uma outra história. Ainda que qualquer conclusão neste momento seja obviamente precipitada, alguns setores da imprensa se apressaram em colocar a culpa nos pilotos do A320. Com a abertura das caixas pretas (que precisam ser analisadas em um contexto muito mais amplo), a hipótese de que a pista escorregadia de Congonhas tenha causado o acidente foi deliberadamente deixada de lado. Não se fala mais nisso. A culpa passou a ser creditada ao piloto.

As informações em alguns jornais foram simplesmente jogadas sem nenhum tipo de critério ou avaliação mais precisa e profunda dos fatos. O capitalismo selvagem mais uma vez mostra sua cara, em um mundo onde vender mais jornais é infinitamente melhor do que vender a verdade. Assim como colocar mais aviões nos céus é infinitamente melhor do que investir na segurança do setor aéreo.

Como se não bastasse o sofrimento causado pela perda de um ente querido de forma tão violenta, pais, filhos e esposas dos comandantes do voo 3054 agora têm que buscar forças para suportar e enfrentar a voracidade inconsequente da imprensa, que se preocupa apenas com a contabilidade no final do mês.

Com a descrição dos diálogos nos minutos finais do Airbus da TAM, fica claro que muitas outras coisas aconteceram dentro daquela cabine. As investigações devem revelar algumas delas, mas outras, jamais saberemos. A verdade, assim como a vida dos envolvidos na tragédia, ficou em pedaços. Por esse motivo, é bem mais fácil, rápido e conveniente dizer que o manete direito foi colocado na posição errada pelo piloto do que explicar que existe a possibilidade do computador da aeronave ter feito uma leitura errada das posições do controle de aceleração da turbina. Nós não entenderíamos bem, é claro. Somos todos “Homers Simpsons”.

O país está indignado. Protestos contra o caos aéreo eclodem a cada dia. Aeroportos estão cada vez mais sobrecarregados. A segurança fica em segundo plano. Os céus estão congestionados. Familiares das vítimas lutam por justiça. O governo nada faz. A roda do capitalismo gira, mas no sentido contrário ao progresso. O pato, portanto, deve ser pago pelos pilotos, que não podem se defender.

Todo acidente aéreo, sem exceção é conseqüência de uma soma de fatores. Os pilotos são treinados para enfrentar as mais variadas situações de emergência. Incidentes aeronáuticos acontecem todos os dias no mundo inteiro e nós não ficamos sabendo. Muitos deles só não se transformam em acidentes por causa da perícia dos pilotos. Isso, no entanto, quase nunca é exaltado pela imprensa, afinal, notícia sem o componente tragédia não é notícia lucrativa.

Após o acidente da TAM, surgiu a informação de que em 10 anos, outros treze incidentes no momento do pouso aconteceram com aeronaves do modelo A320 da Airbus. Pilotos relataram desde problemas com reversores pinados, turbinas superaquecidas, leituras incorretas dos computadores até defeitos no trem de pouso principal dos aviões.

Mas isso é muito complexo para todos nós. É mais fácil fazer acreditar que um comandante com quase 15 mil horas de vôo tenha errado as posições dos manetes na aproximação final (um erro inimaginável até mesmo para um aluno de aeroclube) do que a aeronave ter apresentado algum tipo de falha.

Se conduzidas seriamente pelos órgãos competentes (e não por uma CPI com deputados que de aviação não entendem patavina), as investigações podem nos trazer lições preciosas – que se bem aprendidas – nos mostrarão onde erramos e onde não podemos errar mais. Piloto induzido ao erro, defeito na aeronave, manetes, computadores, pista escorregadia, falta de infra-estrutura aeroportuária e muitas outras circunstâncias precisam ser analisadas com critério, com seriedade. Em dez meses, 353 pessoas morreram nos dois piores acidentes aéreos do Brasil. Os culpados são muitos, mas eles não estão lá em cima nos céus, comandando uma aeronave.

Em tempo
Os deputados da CPI do Apagão Aéreo disseram agora que a pista de Congonhas não foi um dos fatores principais para o acidente com o Airbus. Eu vejo de uma maneira um pouco diferente. A falta de ranhuras ou um possível espelho d’água na pista talvez não sejam mesmo as causas dos problemas de frenagem que a aeronave apresentou, mas a tragédia só aconteceu por falta de uma área de escape e por Congonhas estar localizado onde está.

Vale lembrar os acidentes nas Filipinas em 98 e em Taipei em 2004, quando aeronaves do mesmo modelo possivelmente apresentaram os mesmos problemas do vôo 3054 e não conseguiram parar na pista. Invadiram as áreas de escape (que estão lá exatamente para isso) e a tragédia foi evitada. Três pessoas morreram em terra nas Filipinas porque moravam em uma ocupação irregular próximo à cabeceira da pista. Com uma pista mais eficiente e uma área de escape, a tragédia em São Paulo provavelmente seria mais um incidente nas estatísticas aeronáuticas da Airbus. E nós, já teríamos esquecido.

Foto: Divulgação Airbus

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

♫ Ouviram do... do... do...

Lá, rá, lá, rá, lá, rá, rá, rá. Um recurso útil!
Por Jotha Santos
O Pan-americano do Brasil, ou melhor, lá do Rio de Janeiro, já acabou, mas durante esse período, tive a oportunidade de acompanhar algumas provas e ver alguns brasileiros no alto do pódio.
Enquanto ouvia o nosso glorioso Hino Nacional, devidamente “mixado” para não atrapalhar o andamento da competição – imaginem só se tocassem as duas estrofes do hino - ..zzzzzzzzzz... – percebi que eu não sei cantá-lo corretamente. Na verdade até que eu conheço a letra, mas na hora de colocar tudo na ordem, foi um desastre.

“...Em teu seio, ó liberdade... ...Teus risonhos lindos campos tem mais flores... ...Ó Pátria amada, idolatrada, salve! Salve...” É muita beleza para memorizar em um hino só. Imagine você que o hino da Espanha não tem nem letra!

Deixando os problemas de memória de lado, fico pensando: Que raio de brasileiro é esse que não sabe cantar o hino pátrio? De que serviram as filas que formávamos na escola antes das aulas lá nos anos 80, quando cantávamos em coro a obra de Francisco Manuel da Silva e Joaquim Osório Duque Estrada, pelo menos duas vezes por semana?

Naquela época, eu seria capaz de cantarolar o hino de trás para frente e de ponta cabeça, se preciso, mas hoje, é embaraçante (não no sentido espanhol da palavra, claro). E olha que eu gosto do Hino Nacional Brasileiro, realmente gosto. Tenho até gravado em MP3, veja só você! E quando a programação da TV Cultura termina então! Sempre toca o hino. Quando posso, assisto e escuto até o fim.

É por tudo isso que não justifico o fato de não saber cantar nosso hino corretamente sem me atrapalhar nas palavras e frases tão belas e requintadas. Oportunidades não faltaram, sem contar aquela quando fiz exames para o Exército e fiquei uma tarde inteira garganteando o hino, na chuva, para deleite dos militares.

A partir de agora, não vou mais rir dos jogadores da Seleção Brasileira quando enrolam a língua e soltam o já famoso lá, rá, lá, rá, lá, rá, lá, rá, lá, rá, rá, rá, recurso muito útil para enganar as câmeras, mas que não fica bem para o bom patriota que deseja homenagear sua nação.

Competições internacionais como o Pan, que deveriam ajudar nessa missão, muitas vezes, só atrapalham. Pelo menos este do Rio de Janeiro. O Hino Nacional foi cruelmente guilhotinado em função do tempo. Já tem gente achando que “gigante pela própria natureza” vem mesmo depois de “brilhou no céu da pátria nesse instante”. Surpreso? Não, não é bem assim!

A filosofia do torneio até que está correta. Vence o mais rápido, e não o mais culto. Não adianta nada saber cantar o hino por longos cinco minutos sem antes saber correr 100 metros em nove segundos.

Não tenho a pretensão de lançar aqui a campanha “Vamos aprender o Hino Nacional do Brasil”, mesmo sabendo que este blog poderia fazer a diferença através de seus inúmeros seis leitores, mas vou tentar fazer a minha parte. Segue abaixo a letra do nosso belo hino. Salve! Salve! 



Hino Nacional Brasileiro

OUVIRAM DO IPIRANGA AS MARGENS PLÁCIDAS
DE UM POVO HERÓICO O BRADO RETUMBANTE
E O SOL DA LIBERDADE, EM RAIOS FÚLGIDOS,
BRILHOU NO CÉU DA PÁTRIA NESSE INSTANTE.
SE O PENHOR DESSA IGUALDADE
CONSEGUIMOS CONQUISTAR COM BRAÇO FORTE,
EM TEU SEIO, Ó LIBERDADE,
DESAFIA O NOSSO PEITO A PRÓPRIA MORTE!


Ó PÁTRIA AMADA,
IDOLATRADA,
SALVE! SALVE!
BRASIL, UM SONHO INTENSO, UM RAIO VÍVIDO
DE AMOR E DE ESPERANÇA À TERRA DESCE,
SE EM TEU FORMOSO CÉU, RISONHO E LÍMPIDO,
A IMAGEM DO CRUZEIRO RESPLANDECE.
GIGANTE PELA PRÓPRIA NATUREZA,
ÉS BELO, ÉS FORTE, IMPÁVIDO COLOSSO,
E O TEU FUTURO ESPELHA ESSA GRANDEZA.


TERRA ADORADA,
ENTRE OUTRAS MIL,
ÉS TU,BRASIL,
Ó PÁTRIA AMADA!
DOS FILHOS DESTE SOLO ÉS MÃE GENTIL,
PÁTRIA AMADA,BRASIL!


II
DEITADO ETERNAMENTE EM BERÇO ESPLÊNDIDO,
AO SOM DO MAR E À LUZ DO CÉU PROFUNDO,
FULGURAS, Ó BRASIL, FLORÃO DA AMÉRICA,
ILUMINADO AO SOL DO NOVO MUNDO!
DO QUE A TERRA MAIS GARRIDA,
TEUS RISONHOS, LINDOS CAMPOS TÊM MAIS FLORES;
"NOSSOS BOSQUES TEM MAIS VIDA,
"NOSSA VIDA" NO TEU SEIO "MAIS AMORES".


Ó PÁTRIA AMADA,
IDOLATRADA,
SALVE! SALVE!


BRASIL, DE AMOR ETERNO SEJA SÍMBOLO
O LÁBARO QUE OSTENTAS ESTRELADO,
E DIGA O VERDE-LOURO DESSA FLÂMULA
-PAZ NO FUTURO E GLÓRIA NO PASSADO.
MAS, SE ERGUES DA JUSTIÇA A CLAVA FORTE,
VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA,
NEM TEME, QUEM TE ADORA, A PRÓPRIA MORTE.


TERRA ADORADA,
ENTRE OUTRAS MIL,
ÉS TU, BRASIL,
Ó PÁTRIA AMADA!
DOS FILHOS DESTE SOLO ÉS MÃE GENTIL,
PÁTRIA AMADA,BRASIL!

sábado, 28 de julho de 2007

"Os Deuses Devem Estar Loucos"... e suas lições.

Estariam loucos só os deuses? Ou todos nós?

Por Jotha Santos
Simplicidade é algo que poucas pessoas têm e usam com propriedade. Em “Os Deuses Devem Estar Loucos”, temos um belo exemplo de como situações complexas e inesperadas do nosso cotidiano podem ser desencadeadas por um único evento simples e até despretensioso.

Neste impressionante filme de 1980, que foi objeto de estudos dos mais filosóficos por antropólogos e sociólogos do mundo todo, podemos fazer uma reflexão, se não profunda, no mínimo curiosa de nossa sociedade contemporânea: Por que dificultar se podemos simplificar?

A incrível história de “Os Deuses Devem Estar Loucos” começa com a quase desértica paisagem do Kalahari, região localizada ao sul da África. Ao sobrevoar o local, um desavisado piloto de avião atira pela janela uma garrafa de Coca-Cola que cai em uma pequena comunidade de bosquímanos, povo com milhares de anos de história e que ainda não tinha tido nenhum tipo de contato com a civilização moderna.

Sem entender bem do que se tratava, os nativos atribuíram aquilo como um presente dos deuses, já que literalmente caiu do céu. A garrafa, daquelas bem antigas, de vidro grosso e com o emblemático logotipo da Coca-Cola quase em relevo, fez a alegria de todos na aldeia durante algum tempo. Servia para tudo. De “pau-de-macarrão” a ferramenta de trabalho, o presente dos deuses trouxe “modernidade” e “praticidade” para aquele povo simples.

O problema é que, por ser única, a até então inofensiva e eficaz garrafa passou a ser motivo de desavença dentro da comunidade. Sentimentos típicos de uma sociedade moderna como a cobiça e a ganância, passaram a fazer parte do cotidiano da tribo. A paz havia terminado. A inocência fora perdida.

Mas porque raios então os deuses teriam enviado para aquele povo tamanho motivo de discórdia? Que tipo de presente era este? Só pode ter sido um engano divino! Foi o que concluiu Xixo, o chefe da tribo, que com sua singela sabedoria, decide atravessar o perigoso deserto do Kalahari e levar de volta aos deuses o erradio presente.

É a partir daí que toda a aventura do filme começa. As andanças do líder bosquímano recheiam a trama de situações engraçadas e inusitadas. Em sua jornada para devolver a “coisa má”, Xixo inevitavelmente acaba encontrando outras pessoas, outras culturas. Para ele, tudo aquilo lhe parece muito estranho. Nada poderia ser mais feio do que uma mulher loira e de pele branca.

O filme faz rir pelo humor ingênuo e situações absurdas vividas pelos personagens, mas também nos faz refletir sobre a maneira como muitas vezes observamos a nossa sociedade. Quase sempre, complicamos demais as coisas quando elas poderiam ser muito mais simples. E só quando olhamos o mundo pelos olhos de Xixo, a simplicidade em pessoa, é que compreendemos que tudo poderia ser mais fácil, ou pelo menos, deveria.

Por outro lado, no entanto, olhar o mundo com tamanha inocência e naturalidade pode nos trazer uma enorme frustração ao percebermos que a interpretação que damos aos fatos e as coisas que nos cercam são, na verdade, quase sempre contestáveis. Estariam loucos só os deuses? Ou todos nós?

“Os Deuses Devem Estar Loucos” foi um filme de baixíssimo orçamento, onde tudo era realmente simples. Da atuação de seu personagem principal até a produção e divulgação, tudo foi modesto. Nada mais apropriado para um filme sem pretensões, mas com lições preciosas para um mundo onde complicar é sempre mais fácil do que simplificar.

N!Xau

Há fontes confiáveis que dizem com convicção que o nosso saudoso N!Xau recebeu apenas 100 dólares para atuar no primeiro filme. Ele era um autentico bosquímano que nunca tinha tido contato com a civilização moderna. Jamais representou ou atuou antes de protagonizar “Os Deuses...”, nem mesmo em sua tribo. Sua inocência e humildade, tanto na vida quanto no cinema, ficarão guardadas para sempre em nossa memória.

Nascido na Namíbia e batizado Cgao Coma, N!Xau foi sempre um exemplo de que as origens não devem ser perdidas. Mesmo após o "estrelato" e de uma continuação um pouco mais “rentável” (parece que recebeu 300 dólares pelo segundo filme), Xixo ficou em sua terra natal cuidando do gado e de suas pequenas plantações de milho e abóboras. Construiu apenas uma casa de tijolos e instalou uma bomba d'água "para dar mais conforto à família".

Em julho de 2003, saiu bem cedo para caçar, como de costume, nas regiões desérticas próximas a sua casa e não retornou mais. Morreu de causas ainda desconhecidas, segundo relatório policial da época. Em meados dos anos 90, foi acometido por uma tuberculose que o deixou bastante debilitado. Tinha, acredita-se, 59 anos, pois nem ele mesmo sabia sua idade com certeza. Mesmo seus familiares acreditam que ele era bem mais velho. Teve nove filhos em três casamentos.

Esteja onde estiver, N!Xau deixou a todos nós um exemplo de vida. Um legado de alegria, humildade, inocência, perseverança e força de vontade!

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Antes e depois

Não conheço o autor do texto abaixo. Se você é o autor e ficou bravo com esta postagem, por favor, não me processe, pois sou um jornalista pobre.


Um senador está andando tranqüilamente quando é atropelado e morre. A alma dele chega ao Paraíso e dá de cara com São Pedro na entrada.
-"Bem-vindo ao Paraíso!"; diz São Pedro.
-"Antes que você entre, há um probleminha. Raramente vemos parlamentares por aqui, sabe, então não sabemos bem o que fazer com você".

-"Não vejo problema, é só me deixar entrar", diz o antigo senador.
-"Eu bem que gostaria, mas tenho ordens superiores. Vamos fazer o seguinte: Você passa um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Aí, pode escolher onde quer passar a eternidade".
-"Não precisa, já resolvi. Quero ficar no Paraíso", diz o senador.
-"Desculpe, mas temos as nossas regras".
Assim, São Pedro o acompanha até o elevador e ele desce, desce, desce até o Inferno. A porta se abre e ele se vê no meio de um lindo campo de golfe. Ao fundo o clube onde estão todos os seus amigos e outros políticos com os quais havia trabalhado. Todos muito felizes em traje social.


Ele é cumprimentado, abraçado e eles começam a falar sobre os bons tempos em que ficaram ricos às custas do povo. Jogam uma partida descontraída e depois comem lagosta e caviar. Quem também está presente é o diabo, um cara muito amigável que passa o tempo todo dançando e contando piadas. Eles se divertem tanto que, antes que ele perceba, já é hora de ir embora. Todos se despedem dele com abraços e acenam enquanto o elevador sobe. Ele sobe, sobe, sobe e porta se abre outra vez. São Pedro está esperando por ele. Agora é a vez de visitar o Paraíso.


Ele passa 24 horas junto a um grupo de almas contentes que andam de nuvem em nuvem, tocando harpas e cantando. Tudo vai muito bem e, antes que ele perceba, o dia se acaba e São Pedro retorna.


-" E aí ? Você passou um dia no Inferno e um dia no Paraíso. Agora escolha a sua Casa eterna". Ele pensa um minuto e responde:
-"Olha, eu nunca pensei... o Paraíso é muito bom, mas eu acho que vou ficar melhor no Inferno".


Então São Pedro o leva de Volta ao elevador e ele desce, desce, desce até o Inferno. A porta abre e ele se vê no meio de um enorme terreno baldio cheio de lixo. Ele vê todos os amigos com as roupas rasgadas e sujas catando o entulho e colocando em sacos pretos. O diabo vai ao seu encontro e passa o braço pelo ombro do senador.


-" Não estou entendendo", - gagueja o senador.
- "Ontem mesmo eu estive aqui e havia um campo de golfe, um clube, lagosta, caviar, e nós dançamos e nos divertimos o tempo todo. Agora só vejo esse fim de mundo cheio de lixo e meus amigos arrasados"!


O diabo olha pra ele, sorri ironicamente e diz:


-"Ontem estávamos em campanha. Agora, já conseguimos o seu voto..."

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