sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Os Sentidos do Natal: Epílogo

É. Eu vi... Bell UH1 Huey Iroquois!
Por Jotha Santos
Antes tarde do que nunca! Eu sei que o Natal já passou, mas como os seus sentidos são eternos, aí vai o último, restante, derradeiro e definitivo capitulo da saga Os Sentidos do Natal, até que alguém resolva escrever alguma coisa melhor sobre o assunto, sem necessitar de muito esforço. Desejo a vocês, meus inúmeros seis leitores, um bom ano novo e que 2008 continue sempre novo, ainda que você pareça estar mais velho!

A audição também exerce papel fundamental durante o Natal, principalmente na hora de descobrir os presentes colocados ao pé da árvore, provavelmente enfeitada com as mesmas bolinhas produzidas em larga escala por prisioneiros tailandeses e que foram reprovadas em todos os controles de qualidade, inclusive o seu, dentro da loja. Quando chega meia-noite, todo mundo corre pra pegar o seu presente, e aí aquele cunhado mala diz:

- Esse é o meu! Esse é o meu!

Aí, com aquela mão toda engordurada após comer uns vinte croquetes antes da ceia, o parente da sua esposa (que não é seu, mas pensa que é) dá uma chacoalhada daquelas na caixa e depois questiona:

- Qué isso?
- É de vidro?
- É. Pode abrir!
- Putz!
- Que foi!
- Acho que quebrou!

Já perto da meia-noite, tem sempre aquele outro parente (geralmente um cunhado mesmo) que acredita que no Natal, o milagre da entonação vocal e da afinação perfeita acontece especialmente com ele. Após umas e outras, ele se sente mais preparado que Roberto Carlos em dia de especial da Globo para soltar a voz e mostrar seu grande talento. É de doer! Só a esposa (dele) acha graça. Mas só até certo ponto. O pior é que quando ele se cansa, alguém (provavelmente outro cunhado) vai lá no aparelho de som e coloca aquele CD da Simone que você já sabe bem qual é. O martírio não acaba nunca!

Em alguns momentos, porém, a audição pode nos confundir. E é aí que a visão exerce seu papel igualmente importante na hora de descobrir outros mistérios do Natal e seus pormenores.

- Ô Papai Noel?
- Diga, minha filha!
- Essa sua risada é de Papai Noel mesmo?
- Claro, querida!
- Não parece! Ri de novo?!
- Ho! Ho! Ho!
- É. Não parece mesmo!
- É que Papai Noel está um pouco cansado, minha filha!
- Sei.
- Eu vi o Marlboro na sua mochila!
- E as renas? Cadê?
- Renas?
- É. Você não veio de rena?
- Claro, claro...
- E cadê?
- Você me leva pra ver?
- Não vai dar!
- Ué! Por que?
- ESCUTA AQUI, MENINA!
- Credo, Papai Noel! O que foi?
- Já me enchi desse papo!
- Não escutou o barulho lá fora quando cheguei!
- É. Escutei.
- E você acha que rena faz aquele barulho todo?
- Acho que não!
- Pois é. Dá uma olhada pela janela!
- EU CHEGUEI DE HELICÓPTERO!
- É. Eu vi... Bell UH1 Huey Iroquois!
- Humpf!
- ...
- ...
- Mas, ô Papai Noel?
- Fala logo! O que é que você quer?
- Eu só tenho mais uma dúvida!
- Tudo bem... Qual é?
- Você mora no Vietnã?


Foto: www.aviationphoto.co.uk

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Os Sentidos do Natal: Parte II

É tipo uma galinha. Só que bem maior!
Por Jotha Santos
Após receber muitos pedidos por e-mail (uns quatro), e também pessoalmente (uns dois), a equipe do Coluna Livre (no caso, só eu mesmo) dá continuidade à série Os Sentidos do Natal. Até o dia 25 de dezembro – não necessariamente desse ano – você poderá compreender (ou não), de forma inutilmente analítica, do que o Natal realmente é feito.

Depois do importante tato (veja abaixo. Abaixo, mas no outro texto), analisaremos, de maneira profundamente superficial, o olfato e o paladar. Embora sejam sentidos diferentes, estão essencialmente fadados a dividir as atenções. Não adianta. Primeiro você cheira, depois come. Muita gente até faz o contrário, mas quase sempre acaba se dando mal. Quem é que nunca abriu a geladeira, pegou a primeira garrafinha que viu pela frente, deu aquela golada bem servida e só depois percebeu que o leite já havia virado queijo. É por isso que não dá para separar os dois. Cheirar e comer fazem parte da nossa história. E também fazem bem à saúde.

Com cerca de 5 milhões de células olfativas e capaz de identificar mais de 4 mil cheiros diferentes, nosso nariz nos revela algumas coisas interessantes sobre o Natal. Um dos grandes sinais quase sempre vem logo pelas manhãs do último mês do ano. O cheiro de açúcar e canela não deixa dúvidas: Tem rabanada! Aquele pãozinho amanhecido mergulhado em leite e ovos faz a alegria da criançada (e da velhacada sem dente também), porém, alguns questionamentos ainda habitam o consciente coletivo individual das maiores cabeças pensantes do nosso universo cósmico natalino.

- Ô mãe?
- Diga, minha filha!
- Por que essa comida chama rabanada?
- Não sei. É só um nome!
- É feita de rabo?
- Claro que não. Imagina!
- Tem rabo dentro?
- NÃO, né! É feita de pão!
- Ahh...
- Ô mãe?
- Hum!
- Pão tem rabo?

Além do nome, o prato típico de fim-de-ano ainda traz outra questão não esclarecida:

- Ô mãe?
- O que é, menina!
- Como se faz rabanada?
- Bom, primeiro você pega o pão amanhecido...
- Peraí! Amanhecido?
- É, filha...
- Como assim?
- Amanhecido! De um dia para o outro! Entende?
- Ah, bom!
- Então você passa no leite, no ovo e frita.
- Legal.
- Mas... ô mãe?
- FALA!
- Pão dorme?

Assim que o paladar entra em ação, mais alguns quase mistérios são desvendados. O Natal passa então a ser mais bem compreendido. As 10 mil papilas gustativas da língua, que transformam o sabor em impulsos elétricos que dizem ao cérebro se a comida é boa ou não, auxiliam nossa percepção do mundo de São Nicolau e suas nuances, filosoficamente falando, claro. As incertezas, no entanto são inevitáveis. O complexo sistema da mais festiva das datas é assim, digamos, muito complexo, redundantemente falando.

- Ô mãe?
- Oi.
- Quiquié Chester?
- Chester é uma ave, minha filha!
- Ave que voa?
- Não sei. Acho que não!
- Como assim?
- É tipo uma galinha. Só que bem maior!
- Ahh...
- Você já viu um?
- Eu não!
- Então como é que você sabe?
- Sabe o quê?
- Que ele não voa?
- Ah! Sei lá... ...sabendo!
- Me dá um pedaço?
- Tó!
- Gostoso né?
- É.
- Mas não tem gosto de galinha. É melhor.
- É.
- Parece frango.
- É.
- Mas é melhor.
- Verdade! Acho que é um frango superdesenvolvido.
- Como assim?
- Ah! É um frango saradão, mais forte!
- Humm...
- Mas, ô mãe?
- Quié?
- Frango vai na academia?
- LÓGICO QUE NÃO, NÉ!
- Então como é que ele fica mais forte?
- Sei lá! Acho que o pessoal dá um remédio pra ele tomar?
- Remédio?
- É. Pra ele crescer mais que os outros!
- Humm...
- Mas, ô mãe?
- FALA!
- Chester toma bomba?
- NÃO!!!!
- Mas então como é que...
- CHEGA! CHEGA DESSE ASSUNTO!
- O que foi?
- Chester é Chester e pronto!
- Tá bom, tá bom...! Não precisa ficar brava!
- Não tô brava!
- Então tá...
- Mas, ô mãe?
- Humpf! O que é!?
- Chester é uma ave que chama Chester, né?
- É.
- E Chester não é frango nem galinha, né?
- É.
- Se Chester é uma ave que não é frango nem galinha...?
- FALA LOGO!!
- Será que Chester tem rabo?


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