Por Jotha Santos
Este deveria ser o momento em que eu iria escrever algo
sobre a repercussão da última postagem, “As dez melhores atrizes da
atualidade”. Pra manter o padrão, sabe? Mas não vai rolar porque não teve
repercussão nenhuma. Nenhum comentário, meia dúzia de visualizações (sendo
quatro minhas) e só. O que é bom porque, se é pra manter padrões, esta humilde
coluna continua com o seu: Ninguém se interessa, ninguém lê e ninguém comenta.
Após uns três anos de inatividade, continuo indo muito bem, só que ao contrário.
É o que eu chamo de “A Teoria do Sucesso Reverso”.
Não é lá uma grande teoria que daria orgulho ao Neil
deGrasse Tyson, até por que ele se deu bem na vida falando de coisas que
ninguém entende, mas finge que entende. É mais uma maneira de observar de forma
positiva aquilo que não parece ser tão bom num primeiro momento. Tipo quando a
gente apanhava da mãe - com aquele chinelão de couro do pai comprado em
Aparecida - por ter pulado o muro da escola. Na hora é ruim, fora a humilhação,
mas pelo menos você aprende que matar aula pode ser prejudicial à saúde.
Claro que a TSR – sigla para Teoria do Sucesso Reverso – do
latim, “fracassus retumbantis”, não vale pra todo mundo, pois tudo é relativo,
já dizia o velho Einstein. Veja o Rodrigo Hilbert, por exemplo. Ele não sabe o
que é isso na vida. O cara é simplesmente perfeito. Perfeito ao ponto de dar
raiva em TODOS OS HOMENS DO PLANETA. Como é possível? O cara não só é galã de
novelas como é sarado, alto, loiro, com a cútis perfeita e um bronzeado de
fazer inveja até ao Donald Trump, o verdadeiro agente laranja. Ele ainda por
cima cozinha (isso é sacanagem). E pra piorar a nossa situação, ele não só
cozinha como CAÇA A SUA PRÓPRIA COMIDA! E mais: Ele ainda tem um programa de
televisão pra mostrar os pratos espetaculares que faz. Quando não caça, faz
compras no Pão de Açúcar, o suprassumo dos mercados.
E você que está aí pensando que o rapaz caça coelhinhos
fofos, galinhas de angola, codornas e patinhos na lagoa, não. NÃO! O cara caça
é Javali. Jacaré. Avestruz. Até posso ver os filhinhos dele (que são igualmente
perfeitos e ainda por cima gêmeos) falando:
- Papai, papai! Estamos com fome.
-Crianças! Tomem aqui uma coxa de rinoceronte!
É demais para qualquer um. Como se tudo isso não fosse o
bastante para humilhar a nós, homens normais que se apegam à TSR para ter
alguma esperança na vida, o cara ainda é casado com a FERNANDA LIMA. É como se
Deus o tivesse escolhido para receber tudo o que há de melhor na vida terrena.
O problema é que não sobra muita coisa pra gente. Tudo o que a gente faz não
presta. Nem se compara. São pessoas como o Rodrigo Hilbert que revelam alguns
pontos fracos da Teoria do Sucesso Reverso, como a capacidade de tornar seu
alento inútil diante de tamanha grandeza. Na verdade, só ele mesmo. Porque como
ele, na há. O cara era, é e há de ser!
Só que existe um meio-termo nisso tudo. Nem sempre você está
na parte de baixo da tabela. No fim da fila, na base da pirâmide, no início da
cadeia alimentar (só pra usar todos os clichês possíveis). Outro dia assisti a
um stand up com um comediante que falava justamente sobre como os
caras bem-sucedidos humilhavam os mortais como ele. Claro que entre os nomes
citados estava o de Rodrigo Hilbert, o mestre em fazer os demais se sentirem
humilhados. E foi aí que eu pensei:
-Mas este “standapeiro” aí não é aquele que aparece na TV?
Sim. É ele mesmo!
Daí eu fiquei imaginando que se pra ele, ser comparado ao
Rodrigo Hilbert é ruim, imagine pra mim. O cara tem programa na televisão, faz
comercial de tudo quanto é produto bom, faz dezenas de shows por semana, sempre
com casa lotada, é uma figura reconhecida por todos, suas redes sociais vivem
lotadas de comentários, curtidas e etc. Sua carreira já está consolidada e ele
provavelmente já está rico a ponto de não se preocupar mais com o INSS.
Assim, eu olhei pra mim...
Ninguém me conhece. Nunca apareci na televisão. Eu não tenho
talento nem pra fazer comercial de Tubaína no verão. Meu blog já tem dez anos
de existência e até agora só tem dois seguidores, eu e minha esposa, que por
sinal, só passou a segui-lo ontem porque eu mandei (lê-se, pedi de maneira
respeitosa). Até agora, tudo o que eu fiz não deu em nada. Não que eu tenha
feito muita coisa útil, mas eu até que tentei. Outro dia, um amigo de muitos
anos me lembrou que eu sou a única pessoa do mundo que ele conhece que
conseguiu perder um emprego público, com concurso e tudo, e ainda por cima
durante o governo Lula. É, é verdade. Eu não sei fazer nem pipoca de microondas
direito, quanto mais caçar o alimento e ainda prepará-lo para uma família feliz
ao redor da mesa durante um programa de televisão que, claro, é gravado na
própria fazenda do homem mais incrível da história (lê-se Rodrigo Hilbert). Eu
faço compras no Dia e no Mercadinho da Vila, cuja dona eu descobri hoje que é
minha vizinha. Não tive nenhum desconto por isso.
Dia desses eu fui tentar consertar o sensor de presença da
academia de uma amiga. Não só quebrei o aparelho como arranquei o reboco da
parede. Me lembro que quando eu era pequeno, fui cheirar um perfume daqueles da
vovó (lê-se Avon), só que eu esqueci que eu estava deitado. O liquido entrou
tão fundo no nariz que até hoje eu sei como é o cheiro, tipo essência de velha.
Nos meus empregos ordinários, eu sempre ouvi:
- Você é bom.
- Legal!
- Mas tome aqui sua demissão!
- O quê?
A torneira da cozinha está péssima. Imaginem as reclamações.
Só que eu não arrumo porque eu sou muito grande e não consigo entrar embaixo da
pia para executar o serviço. Ou seja, nem a minha fisiologia ajuda. Aliás,
outro dia eu fiz um teste daqueles de bioimpedância e o aparelho disse que eu
já tinha uma idade biológica de 76 anos. Foi aí que eu concluí que sou mais
velho que meu pai e já posso dar entrada na aposentadoria.
Eu sou daqueles que chupa todas as balas do baleiro que
foram compradas pras visitas. Daqueles que, a cada quatro copos que lava, um se
quebra. Daqueles que a impressora trava bem na hora e ainda deixa uma mancha de
tinta na folha A4 novinha que é pra você não reaproveitar. Daqueles que
aguardam ansiosamente a hora do almoço pra comer um marmitex de treze reais
comprado no "buteco" ao lado do trabalho. Trabalho cuja chefe, por
sinal, é minha esposa. Sou daqueles que quando solta um pum, não adianta: Ele
sempre virá com um pouquinho de peróxido de hidrogênio e seu cheiro característico.
O INSS é a única esperança de estabilidade financeira. Tomara que dê para pagar
o marmitex porque eu não sei caçar javali.
Na vida, temos pessoas no topo. Comediantes bem sucedidos,
mas que não são lá nenhum Rodrigo Hilbert e por isso se acham inferiores, e
temos caras como eu, que estão abaixo de tudo. Até dos comediantes. Concluo,
portanto, que Einstein tinha mesmo razão ao dizer que tudo é relativo. Passei a
entender que, das coisas mais cotidianas a um show de stund up, ou mesmo
caçando crocodilos para comer, tudo já foi teorizado, sintetizado e explicado
pelas sábias meninas do "Bom, xibom, bombom, bombom". O motivo, todo
mundo já conhece: É que o de cima sobe e o debaixo desce."
Há algum tempo, minha mãe falou que ainda não estava
tranqüila para partir, pois eu ainda não havia “dado certo na vida” (estas não
foram as palavras dela, claro, pois nenhuma mãe faz isso com o filho, mas foi o
que ela quis dizer). Foi aí que para mim, a TSR fez todo sentido e tornou-se
ainda mais mágica e poderosa. Eu não sou nenhum Rodrigo Hilbert (impossível) e
nem um comediante com programa de televisão, ok. Mas se eu continuar assim, um
cara ordinário, com meia dúzia de leitores no blog, com uma torneira quebrada
em casa e comendo marmitex de treze reais todos os dias, isso significa que
MINHA MÃE VAI DURAR PARA SEMPRE. Tipo o Mumm-Rá, só que bonita, legal e
bondosa. E isso é bom. Mais até do que bom. É ótimo. É a Teoria do Sucesso
Reverso em sua plena magnitude. Chupa essa, Rodrigo Hilbert!
Agora chegou a hora do almoço. Vou indo lá no
"buteco".