terça-feira, 14 de agosto de 2007

Decisões

Por Jotha Santos
- Tia?
- Pode falar...
- Tem Fanta?
- Tem sim!
- Então me vê uma Coca!
- Tá de palhaçada comigo, muleque!
- Tô não, tia!
- Então fala logo o que você quer!
- Não sei, tô na dúvida!
- Então resolve logo que a fila tá aumentando!
- Tá bom...

- E aí! Já decidiu?
- Hum... ainda não.
- Ô garoto! Melhor resolver logo!
- Quanto tempo eu tenho?
- De recreio?
- É.
- 45 minutos.
- E pra escolher?
- Escolher o que?
- O que eu quero!
- Não tem mais tempo nenhum! Fala logo!
- Como assim?
- Como assim o que?
- Você disse que eu tinha 45 minutos!
- De recreio...
- Então.
- Então o que?
- Então eu ainda tenho tempo prá escolher.
- Muleque, eu tô perdendo a paciência!
- Por que, tia?
- Ahr! Seu tempo acabou!
- Acabou?
- É. Acabou!
- Mas você disse que eu tinha...
- CHEGA!!
- Calma tia. Não precisa ficar brava!
- Tudo bem. Mas vê se escolhe logo.
- Quanto tempo ainda tenho?
- Só cinco minutos!
- Tá bom. Acho que já escolhi!
- Ufa. Até que enfim!
- Mas se o sinal bater eu não vou poder escolher o qu...
- VAI LOGO!
- Tá, tá... desculpa.
- Já decidiu?
- Já.
- O que vai ser?
- Bééééééééééé!
- Vixe, tia. Bateu o sinal!
- Pede agora que ainda dá tempo.
- Tá bom...
- Vai. Diz logo!
- Tá. Tem Fanta?
- Tem. Tem sim!
- Então me vê uma Coca!

sábado, 4 de agosto de 2007

A verdade ficou em pedaços

A culpa passou a ser creditada ao piloto.
Voo 3054
Por Jotha Santos
Quando um acidente aéreo acontece, sou sempre o último a dizer que a culpa foi do piloto. Como entusiasta da aviação, sei que os pilotos que chegam ao comando de uma aeronave são extremamente competentes, bons mesmo. Seja na aviação civil ou militar, esses homens extraordinários e suas máquinas maravilhosas fazem o que a maioria de nós jamais seria capaz. São pessoas não apenas preparadas para o ofício, mas que nascem com um talento especial para fazer algo que até pouco mais de um século atrás era considerado impossível.

Voar não é para qualquer um. E quando digo voar, é voar mesmo! É deixar o conforto das poltronas da primeira classe para assumir o assento da esquerda de uma cabine de comando. Ali, com o auxílio da máquina, você voa! Conduzir aos céus um pássaro de ferro de 60 toneladas e traze-lo de volta ao chão em segurança é transformar a magia em realidade. É fazer dos céus a sua morada, e da terra, apenas uma parada obrigatória.

As investigações do acidente com o Airbus da TAM em 17 de julho estão apenas no começo. A forma como estão sendo conduzidas, no entanto, é uma outra história. Ainda que qualquer conclusão neste momento seja obviamente precipitada, alguns setores da imprensa se apressaram em colocar a culpa nos pilotos do A320. Com a abertura das caixas pretas (que precisam ser analisadas em um contexto muito mais amplo), a hipótese de que a pista escorregadia de Congonhas tenha causado o acidente foi deliberadamente deixada de lado. Não se fala mais nisso. A culpa passou a ser creditada ao piloto.

As informações em alguns jornais foram simplesmente jogadas sem nenhum tipo de critério ou avaliação mais precisa e profunda dos fatos. O capitalismo selvagem mais uma vez mostra sua cara, em um mundo onde vender mais jornais é infinitamente melhor do que vender a verdade. Assim como colocar mais aviões nos céus é infinitamente melhor do que investir na segurança do setor aéreo.

Como se não bastasse o sofrimento causado pela perda de um ente querido de forma tão violenta, pais, filhos e esposas dos comandantes do voo 3054 agora têm que buscar forças para suportar e enfrentar a voracidade inconsequente da imprensa, que se preocupa apenas com a contabilidade no final do mês.

Com a descrição dos diálogos nos minutos finais do Airbus da TAM, fica claro que muitas outras coisas aconteceram dentro daquela cabine. As investigações devem revelar algumas delas, mas outras, jamais saberemos. A verdade, assim como a vida dos envolvidos na tragédia, ficou em pedaços. Por esse motivo, é bem mais fácil, rápido e conveniente dizer que o manete direito foi colocado na posição errada pelo piloto do que explicar que existe a possibilidade do computador da aeronave ter feito uma leitura errada das posições do controle de aceleração da turbina. Nós não entenderíamos bem, é claro. Somos todos “Homers Simpsons”.

O país está indignado. Protestos contra o caos aéreo eclodem a cada dia. Aeroportos estão cada vez mais sobrecarregados. A segurança fica em segundo plano. Os céus estão congestionados. Familiares das vítimas lutam por justiça. O governo nada faz. A roda do capitalismo gira, mas no sentido contrário ao progresso. O pato, portanto, deve ser pago pelos pilotos, que não podem se defender.

Todo acidente aéreo, sem exceção é conseqüência de uma soma de fatores. Os pilotos são treinados para enfrentar as mais variadas situações de emergência. Incidentes aeronáuticos acontecem todos os dias no mundo inteiro e nós não ficamos sabendo. Muitos deles só não se transformam em acidentes por causa da perícia dos pilotos. Isso, no entanto, quase nunca é exaltado pela imprensa, afinal, notícia sem o componente tragédia não é notícia lucrativa.

Após o acidente da TAM, surgiu a informação de que em 10 anos, outros treze incidentes no momento do pouso aconteceram com aeronaves do modelo A320 da Airbus. Pilotos relataram desde problemas com reversores pinados, turbinas superaquecidas, leituras incorretas dos computadores até defeitos no trem de pouso principal dos aviões.

Mas isso é muito complexo para todos nós. É mais fácil fazer acreditar que um comandante com quase 15 mil horas de vôo tenha errado as posições dos manetes na aproximação final (um erro inimaginável até mesmo para um aluno de aeroclube) do que a aeronave ter apresentado algum tipo de falha.

Se conduzidas seriamente pelos órgãos competentes (e não por uma CPI com deputados que de aviação não entendem patavina), as investigações podem nos trazer lições preciosas – que se bem aprendidas – nos mostrarão onde erramos e onde não podemos errar mais. Piloto induzido ao erro, defeito na aeronave, manetes, computadores, pista escorregadia, falta de infra-estrutura aeroportuária e muitas outras circunstâncias precisam ser analisadas com critério, com seriedade. Em dez meses, 353 pessoas morreram nos dois piores acidentes aéreos do Brasil. Os culpados são muitos, mas eles não estão lá em cima nos céus, comandando uma aeronave.

Em tempo
Os deputados da CPI do Apagão Aéreo disseram agora que a pista de Congonhas não foi um dos fatores principais para o acidente com o Airbus. Eu vejo de uma maneira um pouco diferente. A falta de ranhuras ou um possível espelho d’água na pista talvez não sejam mesmo as causas dos problemas de frenagem que a aeronave apresentou, mas a tragédia só aconteceu por falta de uma área de escape e por Congonhas estar localizado onde está.

Vale lembrar os acidentes nas Filipinas em 98 e em Taipei em 2004, quando aeronaves do mesmo modelo possivelmente apresentaram os mesmos problemas do vôo 3054 e não conseguiram parar na pista. Invadiram as áreas de escape (que estão lá exatamente para isso) e a tragédia foi evitada. Três pessoas morreram em terra nas Filipinas porque moravam em uma ocupação irregular próximo à cabeceira da pista. Com uma pista mais eficiente e uma área de escape, a tragédia em São Paulo provavelmente seria mais um incidente nas estatísticas aeronáuticas da Airbus. E nós, já teríamos esquecido.

Foto: Divulgação Airbus

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

♫ Ouviram do... do... do...

Lá, rá, lá, rá, lá, rá, rá, rá. Um recurso útil!
Por Jotha Santos
O Pan-americano do Brasil, ou melhor, lá do Rio de Janeiro, já acabou, mas durante esse período, tive a oportunidade de acompanhar algumas provas e ver alguns brasileiros no alto do pódio.
Enquanto ouvia o nosso glorioso Hino Nacional, devidamente “mixado” para não atrapalhar o andamento da competição – imaginem só se tocassem as duas estrofes do hino - ..zzzzzzzzzz... – percebi que eu não sei cantá-lo corretamente. Na verdade até que eu conheço a letra, mas na hora de colocar tudo na ordem, foi um desastre.

“...Em teu seio, ó liberdade... ...Teus risonhos lindos campos tem mais flores... ...Ó Pátria amada, idolatrada, salve! Salve...” É muita beleza para memorizar em um hino só. Imagine você que o hino da Espanha não tem nem letra!

Deixando os problemas de memória de lado, fico pensando: Que raio de brasileiro é esse que não sabe cantar o hino pátrio? De que serviram as filas que formávamos na escola antes das aulas lá nos anos 80, quando cantávamos em coro a obra de Francisco Manuel da Silva e Joaquim Osório Duque Estrada, pelo menos duas vezes por semana?

Naquela época, eu seria capaz de cantarolar o hino de trás para frente e de ponta cabeça, se preciso, mas hoje, é embaraçante (não no sentido espanhol da palavra, claro). E olha que eu gosto do Hino Nacional Brasileiro, realmente gosto. Tenho até gravado em MP3, veja só você! E quando a programação da TV Cultura termina então! Sempre toca o hino. Quando posso, assisto e escuto até o fim.

É por tudo isso que não justifico o fato de não saber cantar nosso hino corretamente sem me atrapalhar nas palavras e frases tão belas e requintadas. Oportunidades não faltaram, sem contar aquela quando fiz exames para o Exército e fiquei uma tarde inteira garganteando o hino, na chuva, para deleite dos militares.

A partir de agora, não vou mais rir dos jogadores da Seleção Brasileira quando enrolam a língua e soltam o já famoso lá, rá, lá, rá, lá, rá, lá, rá, lá, rá, rá, rá, recurso muito útil para enganar as câmeras, mas que não fica bem para o bom patriota que deseja homenagear sua nação.

Competições internacionais como o Pan, que deveriam ajudar nessa missão, muitas vezes, só atrapalham. Pelo menos este do Rio de Janeiro. O Hino Nacional foi cruelmente guilhotinado em função do tempo. Já tem gente achando que “gigante pela própria natureza” vem mesmo depois de “brilhou no céu da pátria nesse instante”. Surpreso? Não, não é bem assim!

A filosofia do torneio até que está correta. Vence o mais rápido, e não o mais culto. Não adianta nada saber cantar o hino por longos cinco minutos sem antes saber correr 100 metros em nove segundos.

Não tenho a pretensão de lançar aqui a campanha “Vamos aprender o Hino Nacional do Brasil”, mesmo sabendo que este blog poderia fazer a diferença através de seus inúmeros seis leitores, mas vou tentar fazer a minha parte. Segue abaixo a letra do nosso belo hino. Salve! Salve! 



Hino Nacional Brasileiro

OUVIRAM DO IPIRANGA AS MARGENS PLÁCIDAS
DE UM POVO HERÓICO O BRADO RETUMBANTE
E O SOL DA LIBERDADE, EM RAIOS FÚLGIDOS,
BRILHOU NO CÉU DA PÁTRIA NESSE INSTANTE.
SE O PENHOR DESSA IGUALDADE
CONSEGUIMOS CONQUISTAR COM BRAÇO FORTE,
EM TEU SEIO, Ó LIBERDADE,
DESAFIA O NOSSO PEITO A PRÓPRIA MORTE!


Ó PÁTRIA AMADA,
IDOLATRADA,
SALVE! SALVE!
BRASIL, UM SONHO INTENSO, UM RAIO VÍVIDO
DE AMOR E DE ESPERANÇA À TERRA DESCE,
SE EM TEU FORMOSO CÉU, RISONHO E LÍMPIDO,
A IMAGEM DO CRUZEIRO RESPLANDECE.
GIGANTE PELA PRÓPRIA NATUREZA,
ÉS BELO, ÉS FORTE, IMPÁVIDO COLOSSO,
E O TEU FUTURO ESPELHA ESSA GRANDEZA.


TERRA ADORADA,
ENTRE OUTRAS MIL,
ÉS TU,BRASIL,
Ó PÁTRIA AMADA!
DOS FILHOS DESTE SOLO ÉS MÃE GENTIL,
PÁTRIA AMADA,BRASIL!


II
DEITADO ETERNAMENTE EM BERÇO ESPLÊNDIDO,
AO SOM DO MAR E À LUZ DO CÉU PROFUNDO,
FULGURAS, Ó BRASIL, FLORÃO DA AMÉRICA,
ILUMINADO AO SOL DO NOVO MUNDO!
DO QUE A TERRA MAIS GARRIDA,
TEUS RISONHOS, LINDOS CAMPOS TÊM MAIS FLORES;
"NOSSOS BOSQUES TEM MAIS VIDA,
"NOSSA VIDA" NO TEU SEIO "MAIS AMORES".


Ó PÁTRIA AMADA,
IDOLATRADA,
SALVE! SALVE!


BRASIL, DE AMOR ETERNO SEJA SÍMBOLO
O LÁBARO QUE OSTENTAS ESTRELADO,
E DIGA O VERDE-LOURO DESSA FLÂMULA
-PAZ NO FUTURO E GLÓRIA NO PASSADO.
MAS, SE ERGUES DA JUSTIÇA A CLAVA FORTE,
VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA,
NEM TEME, QUEM TE ADORA, A PRÓPRIA MORTE.


TERRA ADORADA,
ENTRE OUTRAS MIL,
ÉS TU, BRASIL,
Ó PÁTRIA AMADA!
DOS FILHOS DESTE SOLO ÉS MÃE GENTIL,
PÁTRIA AMADA,BRASIL!

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