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sábado, 3 de novembro de 2007

Casa do pai Orkut

São traições de todos os tipos e em todos os níveis.
Por Jotha Santos
Peço desculpas aos meus inúmeros seis leitores que acompanham com avidez e sede de conhecimento da nossa rica cultura inútil por tão longo hiato. Acontece que, como bom jornalista fracassado que sou, não consegui atualizar esta humilde coluna com a freqüência que gostaria. Na última quinta-feira eu até que tentei, mas uma forte chuva interrompeu temporariamente o abastecimento de energia em meu bairro, ou seja, popularmente falando, caiu a força. A culpa foi da CPFL, eu juro!

E não foi só isso. Você conhece algum escritor na face da terra que ainda usa Internet discada? O famoso IG? Pois é. Esse é o meu caso. Nem São Bill Gates dá jeito. Dá tanto problema que desanima. A conexão cai toda hora, tudo passa mais devagar, tão lento quanto uma corrida de tartarugas aleijadas. E quando as pessoas me perguntam:
- E aí, você viu aquele vídeo no YouTube? Respondo como o personagem de Drauzio Varella em Estação Carandiru:
- “Sem chance”!

Mas não dá pra ficar só me lamentando. Mesmo que precariamente, ainda consigo manter contanto com a grande rede mundial de computadores. A mãe, o pai, a avó e a tia de todas as mídias. Ainda tem muita gente nesse mundo que jamais viu um teclado, um mouse e não faz a menor idéia de quem seja o tal de Orkut. Não sei se isso é bom ou ruim, antropologicamente falando, claro.

Aliás, nós já sabemos que o Orkut é uma ótima ferramenta para reencontrar velhos amigos, fazer novas amizades, participar de comunidades e debater os mais diversos assuntos da vida cotidiana, porém, uma outra função menos nobre, e por isso mesmo, mais interessante, tomou conta da famosa página de relacionamentos: Descobrir traições.

E são traições de todos os tipos e em todos os níveis. Amigos, colegas de trabalhos, primos, filhos, enfim, qualquer pessoa. Mas o que mais atrai mesmo são as traições entre casais. Mulheres que colocam disfarces (às vezes apenas modificando o nome) e se relacionam com pessoas que o marido ou companheiro nem faz idéia de quem seja. Homens que enchem o álbum de fotos com outras mulheres “maravilhosas” que, com certeza, jamais serão apresentadas as suas esposa. Adolescentes que revelam seu amor incondicional por garotos já comprometidos e vice-versa. É quase um convite ao crime passional.

O pior de tudo isso é que muitas famílias são destruídas pelos tropeços despudoradamente escancarados no site. Os maridos, mulheres, noivos e noivas, namorados e namoradas parecem se esquecer de que suas vidas (e suas traições) serão expostas ao mundo todo. Mas pensar assim seria ingenuidade demais da minha parte. Não posso deixar de citar aqueles que querem e preferem expor suas vidas dessa maneira para que o outro saiba que ele (ou ela) não é mais a pessoa mais importante da sua vida. E olha que saber que sua companheira ou companheiro não divide mais os lençóis apenas com você via Orkut não deve ser nada agradável.

Assim é muito mais fácil, prático e descomplicado, como tudo na Internet. É a revolução. É a tecnologia a favor do homem. É a tecnologia a favor dos traidores. Agora não é mais preciso chegar em casa com a cara deslavada e ter que enfrentar o outro. Basta ir a uma lan house, se cadastrar no Orkut, escrever umas declarações ridículas de amor, colocar umas fotos daquela viagem ao Rio de Janeiro (que o outro pensava ser um congresso de cabeleireiros) e pronto. É só aguardar. Em pouco tempo seu marido ou esposa ficará sabendo de tudo pelos amigos que adoram garimpar essas coisas na Internet (ou ele mesmo vai dar de cara com a foto que supostamente seria do congresso) e aí já está feito.

Nem é preciso abrir a boca. Da cara deslavada, provavelmente não vai dar pra escapar, mas se tudo der certo e ninguém estiver te esperando com uma faca de cozinha na mão atrás da porta, na melhor das hipóteses, você vai ouvir algumas verdades e um monte de besteiras e palavrões enquanto faz as suas malas. Num futuro próximo, terá que levantar um dinheirinho extra com o seu amante para pagar um bom advogado. Nem dá mais tanto trabalho como antigamente. Ah! Esse Orkut! Que maravilha.

Assim como na Casa da Mãe Joana, o Orkut também é um lugar onde vale tudo, sem fé, sem lei e sem ordem. Tudo pode. Tudo é possível. Não tem essa de lé com lé, cré com cré. É lé com cré, cré com lé, lélé com crécré e lélélé com crécrélé. A bagunça é geral. Nem eu estou entendendo mais nada. O mais importante mesmo é que o Orkut traz lucros enormes, como lá na casa da mãezona, ainda que seja às custas da desgraça alheia. Mas em pleno século XXI, na era da modernidade, isso pouco importa, pois é disso que o capitalismo é feito. É a casa do Pai Orkut.

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