Se a Greta lutasse mais pelas verdadeiras causas... |
É fato que muitas pessoas ainda desprezam a pobre mosquinha de
banheiro e isso me incomoda. Desprezam mais do que dinheiro falso, fita K7 do Menudo e
frases da Dilma. Mal sabem a utilidade dessas criaturas aladas para o
equilíbrio e manutenção da nossa fauna sanitária. E é lá no banheiro que elas
jogam em casa. Se você alguma vez observar uma delas fora do seu habitat
natural (na sala de estar, por exemplo), faça uma boa ação: Imagine-a como uma
tartaruga perdida do Projeto Tamar (o nível de importância é equivalente) e
conduza-a cuidadosamente ao ralo mais próximo em seu WC.
Se a Greta Thumberg lutasse mais pelas causas dessas singelas entidades felpudas que habitam a casinha, o mundo seria melhor. Quantas delas você abateu só hoje em seu ligeiro banho
matinal? Quantas vidas você eliminou borrifando Mr. Músculo em suas diminutas larvas?
Larvas que jamais poderão experimentar a metamorfose da vida, ainda que curta. Outro
dia eu li que jogar água fervente em ralos e rejuntes pode auxiliar no
extermínio das pobres coitadas. Cadê a Greta nessas horas?
Uma mosca de banheiro vive apenas uns 15 dias, ou seja, menos
tempo do que você levaria para programar um videocassete ou aprender
inglês na Open English. Parece pouco, mas neste efêmero ciclo de vida, ela faz
muito por você. Apesar de não voar lá muito bem (daí o motivo de sua fácil captura
e matança desenfreada), os acanhados insetos do gênero Psychoda
são seus maiores aliados na preservação e salubridade de sua casa de banho
(entre outras coisas). Eles se alimentam de restos, inclusive os seus! Pele,
pelos, cabelos e outros materiais orgânicos desenvolvem bactérias que servem de
refeição para os pequenos odiados (muito mais do que oito, dependendo da
pujança aplicada na limpeza do seu WC). Limo, bolores e fungos contidos em
azulejos e ralos são como um banquete romano.
Apesar de carregar consigo a obscura denominação “mosca”, sua
melhor ouvinte em momentos de cantoria no chuveiro é completamente inofensiva.
Não transmite nenhum tipo de doença, não suga seu sangue como o Conde Drácula e
é incapaz de desferir uma única picada. A mosca de banheiro jamais aferroa as
mãos de quem a alimenta. Disciplinada, é quase impossível encontrá-la, por
exemplo, em sua cozinha, o que poderia causar certo desconforto, muito embora o
setor gastronômico do seu lar tenha o ambiente propício para o surgimento de
coisas bem mais repulsivas. Uma mosca de banheiro existe apenas para colaborar
com o ecossistema sanitário de sua latrina, tão bem decorada com capinhas e
tapetes de crochê feitos pela sua avó em 1984. Deveria se chamar “Borboleta de Toalete”,
algo muito mais poético e digno de sua nobre função.
Eu entendo que se a população de psychodas estiver crescendo
exponencialmente a ponto de incomodar as visitas, é conveniente realizar algum
tipo de intervenção. Mas vá com calma. Troca de sifões, telas nos ralos, litros
de Qboa e água fervendo uma vez por semana podem ser soluções drásticas demais
e você será o único responsável pela iminente extinção desse simpático espécime,
pelo menos em sua casa. Um recurso rápido, eficaz e indolor consiste em usar
uma raquete elétrica - daquelas vendidas em semáforos - a fim de eliminar apenas o excedente.
Descarte os corpos rapidamente. Comprar um sapo e criar aranhas também ajudam.
Logo mais, ao adentrar seu sanitário para atividades de cunho íntimo e que não dizem respeito a mais ninguém, olhe, contemple e reflita sobre aquelas singulares criaturas. Elas só querem um pedacinho de azulejo, uma fresta de rejunte, um ralo para preservação da espécie e um bocadinho de microrganismos naturalmente fornecidos por você. Em troca, te ajudam na limpeza profunda sem reclamar, fazer greve, picar, invadir outros cômodos, transmitir alguma moléstia bizarra e, principalmente, sem zumbir no seu ouvido de madrugada acabando com o seu sono. Salve a mosca de banheiro!
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